Renato: feliz e solidário, ex-jogador do Magalhães entre os desaparecidos em Brumadinho

ELE TRABALHAVA como motorista da Vale; nos encontros anuais do Maga, Renato puxava as orações e organiza grupos para a doação de materiais aos meninos carentes da escolinha de futebol

Renato Vieira em lance do jogo festivo do Magalhães, em 2017 (FOTOS: Divulgação Magalhães EC)
UMA PESSOA talentosa, religiosa, sempre sorridente e de espírito solidário que, por circunstâncias da vida, deixou o sonho de ser jogador de futebol para ter uma profissão e garantir o sustento da família. É desta forma que os amigos definem o montes-clarense Renato Vieira Caldeira, de 41 anos, ex-jogador do Magalhães Esporte Clube.

FUNCIONÁRIO DA empresa Vale, ele é uma das 270 pessoas que ainda estão desaparecidas após o rompimento da barragem de rejeitos minerais da mina de Córrego do Feijão, em Brumadinho, que causou uma das maiores tragédias sociais e ambientais de todos os tempos no mundo. Já foram encontrados 87 mortos.

A ESPOSA, o filho ainda criança (4 anos) e os pais residem na cidade onde aconteceu o acidente e seguem apreensivos à espera de notícias, assim como os amigos que Renato deixou no Bairro Santo Antônio, onde sua família morou, e na região do Grande Delfino, onde jogou futebol dos 12 aos 21 anos de idade.

MESMO RESIDINDO em Brumadinho há 13 anos, jamais deixou os laços com Montes Claros. Pelo menos uma vez ao ano, visitava a cidade natal, especialmente em dezembro, para participar de jogos festivos num encontro de gerações do Magalhães.

SOLIDÁRIO

Jogador fez homenagem ao ex-treinador Edvaldo (esquerda)
“E NÃO era apenas para bater uma pelada. Ele se juntava com outros ex-jogadores do Magalhães que moram em BH ou perto de lá para arrecadar bolas, chuteiras, coletes e outros materiais esportivos para doar a projetos sociais do clube aqui no bairro. Era um dos mais alegres por rever os amigos e quase sempre puxava a oração para agradecer o momento de confraternização”, explica Jardel Pereira Santos, amigo de Renato e contemporâneo dos tempos de “cascudo” do Magalhães, como era chamado o time aspirante nos anos 90.

RENATO TRABALHAVA como motorista da empresa Vale e, no momento do acidente em Brumadinho, era um dos funcionários que estava no refeitório que foi aterrado pela enxurrada de lama. Ele e o irmão são funcionários da empresa, só que trabalhavam em locais diferentes. Romualdo, que também foi jogador nos anos 80, inspirou Renato e até chegou a jogar na base da Portuguesa/SP, estava em outra unidade da Vale na Grande BH.

Nas redes sociais, amigos fazem corrente
NAS REDES sociais, mais amigos literalmente clamam por informações sobre o motorista. “Aguente firme; o resgate está a caminho. Deus já deu ordem a teus anjos para te buscar”, postaram.

NO PENÚLTIMO encontro dos ex-jogadores do Magalhães, Renato foi escolhido pelo grupo para fazer homenagem ao treinador Edvaldo Bento, o mesmo que comandou a “galera” quando eram meninos e adolescentes. Evangélico, ele “puxou” a oração e depois entregou ao “professor” uma placa em nome dos ex-atletas.

SONHO

UM DIA antes da tragédia, Renato compartilhou com os amigos o mais novo projeto para 2019: fundar a Escolinha de Futebol dos Irmãos Vieira, em Brumadinho, com o objetivo de dar oportunidade às crianças carentes na iniciação esportiva e, ainda, receber talentos descobertos especialmente em Montes Claros e no Norte de Minas para ajudá-los a chegar aos testes nos clubes mais tradicionais de BH. Nos anos 90, ele chegou a fazer testes no extinto Santa Teresa, uma das principais referências no futebol de base naquela época.


Distintivo do projeto criado por Renato, um dia antes da tragédia

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