Técnico do Victória fala da necessidade de mudar estilo e conta com aval do amigo Taffarel

À FRENTE do projeto do Victória para a 2ª Divisão, Luiz Fernando destaca a necessidade de mudar estilo: "não se treina mais só na base do grito" e adianta que goleiro do tetra quer se tornar treinador

Luiz Fernando Gatão ao lado de Taffarel, durante a temporada do Brasil em BH
AOS 47 anos, Luiz Fernando “Gatão” será o técnico do projeto inédito do Victória Clube de disputar o Campeonato Mineiro da Segunda Divisão. Será a primeira oportunidade de trabalhar como técnico de uma equipe profissional de sua cidade natal. A experiência anterior havia sido no Ipatinga FC, em 2004, quando substituiu a Ney Franco e conquistou a Taça Minas Gerais, garantindo ao clube do Vale do Aço uma vaga na Copa do Brasil do ano seguinte.

MAS ANTES e depois do Ipatinga, a vida dentro do futebol teve como campo de trabalho a preparação de goleiros em seis clubes brasileiros, com maior destaque para o Atlético nos anos 90, quando treinou ninguém menos que o goleiro campeão do mundo Carlos André Taffarel. 

A AMIZADE perdura até hoje, ao ponto de ter sido convidado por Taffarel, um dos heróis do tetra, para acompanhar, por uma semana, as atividades da Seleção Brasileira em Belo Horizonte durante a preparação para os jogos contra Argentina e Colômbia, pelas eliminatórias da América do Sul para a Copa da Rússia/2018.

EMBORA SEJA um clube novo, sem a mesma tradição de Ateneu, Cassimiro, Funorte e Montes Claros em competições oficiais, Gatão disse que aceitou ir para o Victória diante da proposta de trabalhar com jogadores da cidade e região. “Dar oportunidade”, como ele mesmo disse. “Estou dando crédito à organização que eles me mostraram para este projeto, mas se não fosse assim, não teria aceitado”.

Mais detalhes sobre o que pensa o treinador na entrevista à VENETA

CONSEGUE PENSAR em acesso apostando em uma base só de jogadores de Montes Claros e região?
GATÃO – “Vivencio o futebol há muitos anos e sei que o futebol em Montes Claros tem muita qualidade técnica. Isso precisa ser trabalhado; dar oportunidade aos jogadores. A minha proposta é de fazer uma avaliação criteriosa e resgatar os atletas da cidade que têm técnica, mas precisam de orientação e ter a cabeça no lugar para se dar bem no futebol”.
Técnico durante a apresentação do projeto do Victória Clube, em janeiro
DÁ PARA generalizar e buscar todo atleta que teve certo destaque, mas que por diversos motivos não está em atividade aqui em Minas ou em outro estado?
GATÃO – “Cada caso é um caso. Quando o jogador para por muito tempo e perde condicionamento físico, precisa ser avaliado criteriosamente. Outra coisa é achar que todo jovem com técnica acima da média pode se dar bem no futebol profissional”.

VOCÊ TEM uma base, mas quer avaliar estes jogadores já profissionais que estão parados e garimpar outros jovens valores pela região. Qual o tempo ideal para fazer isto?
GATÃO – “Até fevereiro quero ter um grupo base e a partir daí realizar uma série de jogos pela cidade e região. Não dá para avaliar um atleta só em treinos. Tem que vê-lo correr, ser pressionado, noção de espaço e de coletividade. A 2ª Divisão é um campeonato para atletas até 23 anos e aqui na cidade e na região tem muita gente com potencial para disputá-la”.

O TRABALHO no Ipatinga foi há muito tempo: como voltar a ser técnico agora?
GATÃO – “O trabalho no futebol é muito integrado. Você como preparador de goleiro compõe uma comissão técnica, que faz tudo coletivamente. Fui treinador no Ipatinga e preparador de goleiros no Atlético, América, Tupi, no próprio Ipatinga e no RS Futebol Clube, ao lado do professor Carpegiani, e no Grêmio Maringá, onde o Muller era o técnico. Então, você absorve muita coisa: está ali trabalhando, mas ao mesmo tempo aprendendo”.
MAS O futebol mudou demais de lá pra cá...
GATÃO – “Claro... Muito mesmo. Os estilos como do grande Carlos Alberto Silva, Procópio Cardoso e do Wantuir Galdino foram históricos. Era na base do grito, quase no sopapo, mas o jogador sabia como a coisa funcionava e agüentava a bronca. Hoje, o atleta é mais sensível e você tem que dividir opiniões, não impor logo de cara. Esta é mais a linha do Tite, que aceita discutir opiniões. Ou seja, antes de ganhar a partida eu tenho que ganhar o grupo, mas sem perder a postura de comandante”.

E O que fez particularmente acompanhar a transição?
GATÃO – “Revendo conceitos e metodologias. Não tenho dificuldade de aceitar que sou obrigado a aprender algo novo. A oportunidade que eu tive de acompanhar a seleção brasileira por uma semana, quando jogou contra a Argentina em Belo Horizonte, foi muito importante nisto tudo”.

E COMO foi isto?
GATÃO – “Foi um convite do Taffarel. A gente se fala com freqüência e quando ele chegou em BH me fez um contato. Fui na hora. Fiquei por uma semana junto com a seleção aprendendo sobre treinamentos táticos e físicos, preparação dentro e fora de campo”.

O TAFFAREL foi o único que seguiu na comissão técnica na transição Tite-Dunga. O trabalho dele é diferenciado?
GATÃO – “Ele é muito bom no que fez, porque foi um goleiro excepcional. Marcou época, foi ídolo. Conheço o Taffarel muito bem, somos amigos e posso cravar que ele está se preparando para se tornar técnico. Acho que depois desse ciclo de Copa do Mundo, vai encarar algum trabalho como treinador. Ele estava muito bem na Turquia, técnica e financeiramente, onde é ídolo. Não deixou o Galatasaray à toa para voltar a morar no Brasil. Ele tem este plano, que está bem encaminhado”.

ESTA AMIZADE pode render algo para o Victória?
GATÃO – “Já fiz uma sondagem para que ele venha conhecer o nosso projeto, venha incentivar os garotos que estão começando e passar alguma coisa da vasta experiência que possui no futebol. Um cara bem sucedido como ele sabe como poucos motivar um garoto que esteja acreditando no futebol como profissão”.

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