Procópio sugere que Lava-Jato chegue ao futebol

"SE ISSO acontecer, efeito vai ser pior que na política", disse; ex-treinador revela que pensou em se vingar de Pelé e conta episódio da briga do CAM contra o rebaixamento em 2004


Procópio durante entrevista ao Momento Esportivo, nessa segunda; ex-treinador prepara biografia e com polêmicas
O EX-TREINADOR Procópio Cardozo Neto faz coro para a moralização do futebol brasileiro e até se mostra radical ao sugerir que o esporte também tenha sua versão da “Operação Lava-Jato”, assim como acontece na política nacional. Ele comentou o assunto em mais uma visita a Montes Claros, no último fim de semana, para uma palestra sobre futebol e religião, no Max Min Clube, e para um encontro da Igreja Batista na cidade.

“A LAVA-JATO tem que entrar rapidamente no futebol. E para resumir, vou ser sincero: se entrar vai ser pior do que na política”, disse Procópio, ao se referir à possibilidade de denúncias de irregularidades no esporte mais popular do País. O assunto foi tratado na entrevista ao apresentador Rubem Ribeiro, do programa Momento Esportivo (VinTV/Canal a Cabo), nessa segunda-feira.

IMPORTAÇÃO

ELE SE diz chocado com a quantidade de estrangeiros que estão atualmente no futebol brasileiro. “Há clubes com cinco e até seis atletas de outros países. Isso é reflexo da má gestão na base. O futebol brasileiro passou de exportador para importador e a base foi deixada de lado”, desabafou.

O EX-ZAGUEIRO de Cruzeiro, Atlético, Palmeiras, Seleção Brasileira, Fluminense e São Paulo resume o Brasil como um país muito rico, “diria milionário em talentos; há muitos meninos carentes que precisam de ajuda, de atenção social e esportiva”, mas, para ele, estão fazendo justamente o contrário ao buscar jogadores de outros países e não dar oportunidade aos talentos brasileiros.

FAMA

NA ENTREVISTA, Procópio não fugiu de perguntas sobre a fama de técnico disciplinador e da habilidade em socorrer times ameaçados de queda, além de não aceitar desaforos. “Cada um tem um modo de trabalhar; eu diria de motivar um grupo”, disse, ao responder sobre nunca ter negado o convite para assumir um clube com riscos de cair de divisão.

UM DOS casos emblemáticos, conforme Procópio, aconteceu no Atlético em 2004, quando Tite, atual técnico da Seleção Brasileira, foi demitido a três rodadas do fim do Campeonato Brasileiro diante da ameaça de rebaixamento. “Gosto dele [Tite]. É uma pessoa simples e que sabe reconhecer as pessoas e as coisas boas que elas fazem. Naquela época, fui chamado para assumir o Atlético no lugar dele faltando somente três jogos para o final. Se empatássemos dois jogos, a queda seria inevitável”.

E PROSSEGUE: “a tensão com a torcida era muita e a gente teve que levar um jogo para fora de BH para evitar até mesmo um confronto físico. O pior é que apenas empatamos com o Paysandu, em Ipatinga (1x1). Ainda lá, a delegação estava jantando e a torcida ameaçou invadir o restaurante. Depois, na estrada, seguiram o ônibus pela rodovia e sempre ameaçando, até que pedi o motorista para parar”.


Lance da contusão de Procópio envolvendo Pelé
O MOMENTO mais tenso, vem a seguir, segundo o ex-treinador: “falei com os atletas, quem quiser pode descer comigo”. Para Procópio, era hora de passar a limpo a situação com a torcida. “Nenhum jogador ficou no ônibus. Vou ser sincero: estava disposto até a ir para o confronto físico, o que não aconteceu porque os torcedores foram embora. Mas teve um lado bom nisto tudo: mexeu com o brio dos jogadores. O time foi outro; assumiu a postura de homens e vencemos Grêmio fora e o Flamengo, de novo em Ipatinga, e nos salvamos do rebaixamento”.

AINDA NA entrevista, Procópio resumiu como injustiça falar que torce para este ou aquele time. “Quando você joga e treina outros clubes, acaba adquirindo um vínculo muito grande com todos eles. Seria injusto eu dizer que sou este ou aquele”, finalizou o ex-treinador, que coloca Pelé, Tostão e Reinaldo como os gênios que presenciou ao seu lado no futebol brasileiro.

VINGAR DO REI

E SOBRE o rei do futebol, um parêntese: a séria fratura que teve na perna, em um lance com Pelé em 1968, o tirou dos campos por cinco anos. Procópio disse que pensou em vingança na maior parte do tempo de recuperação, até porque não sabia se voltaria a jogar. “Tive que fazer testes e mais testes no Cruzeiro para saber se voltaria a jogar. Acho que a qualidade do grupo ajudou nisto. Tive companheiros de zaga memoráveis. Jogaríamos de novo contra o Santos e ainda estava chateado com aquilo tudo. O Zé Carlos, um grande amigo que hoje passa por sérias dificuldades de saúde, me convenceu a não me vingar do Pelé. Na sua sabedoria e simplicidade, o Zé me disse que eu refletisse. Deus lhe deu uma chance muito grande de estar aqui de novo".

Nenhum comentário