Palavra de capitão: Dá para ser vencedor mesmo vindo de longe"

A própria experiência pessoal, quando saiu da distante Rio Branco, no Acre, para tentar a vida como jogador profissional, é a maior motivação que o ex-atacante Antônio Carlos Gouveia, o Carlão, tem para viajar pelo País afora divulgando o projeto "Embaixadores do Esporte". Na sexta-feira, dia 22, o ídolo da Seleção Brasileira de Vôlei esteve em Montes Claros para esse trabalho e usou seu exemplo para convencer as crianças e jovens de que qualquer tipo de dificuldade tem a sua solução."Sai de casa aos 16 anos para jogar vôlei em Fortaleza. Lá, meu primeiro técnico me dispensou. Desisti? Hoje, sou pentacampeão da Liga Nacional, campeão mundial, campeão olímpico", disse, ao considerar as drogas desculpa esfarrapada para justificar qualquer tipo de fraqueza.
Na estadia de um dia na cidade, além de lançar a V Maratona Esportiva na AABB de Montes Claros - onde não escondeu as lágrimas pela sequência de homenagens -, visitou as crianças assistidas pelo projeto AABB-Jovem e as de um projeto social desenvolvido pela Unimontes para a formação de auxiliares administrativos.
Paciência de Jó para atender aos autógrafos e fotografias e, claro, para entrevistas.


O que propõem os "Embaixadores do Esporte"?
CARLÃO
– "Na verdade, esse projeto é uma herança do Fome Zero, que começou em 2003 envolvendo não apenas os artistas, mas também os jogadores profissionais em atividade, ex-atletas e outras lideranças. O que a gente divulga - e com muito prazer - é o valor humano, o caráter, a responsabilidade, o compromisso... Como a pessoa pode exercer a cidadania, além, é claro, de incentivar a iniciação esportiva".

Dá para convencer o público?
CARLÃO
– "Claro, porque o grande argumento que temos é a nossa experiência de vida. Todos, indistintamente, enfrentaram dificuldades; das mais diversas. No meu caso, por exemplo, saí de Rio Branco aos 16 anos para tentar a vida como jogador; era o que eu queria mesmo! Fui para Fortaleza e me dispensaram logo nos primeiros testes. Tentei outra vez e consegui não apenas seguir no meu sonho dentro do esporte, como também ganhar uma bolsa de estudos. Esse cara que me dispensou é policial militar. Hoje, encontro com ele e converso sem qualquer mágoa".

E como esse trabalho dos embaixadores é executado?
CARLÃO
– "A ideia é do Banco do Brasil, que é parceiro da Seleção Brasileira há décadas. São vários embaixadores, todos eles já envolvidos com a causa social, seja em seus projetos próprios ou em trabalhos como colaboradores. A turma do vôlei está em peso: o Paulão, Marcelo Negrão, Maurício, Adriana Behar e o Giovanne, que saiu temporariamente por causa de projetos pessoais... Mas tem gente também de outras praias (risos) como o Robert Scheidt e o Guga. O que a gente faz nessas visitas envolve basicamente palestras e campanhas sociais para ajudar os mais carentes, embora haja o interesse para a formação de agentes multiplicadores no esporte; uma base para as escolinhas".

Agora mesmo você está em uma Universidade (esteve visitando o campus da Unimontes), qual a importância dela nesse contexto?
CARLÃO
– "Em qualquer lugar, uma universidade é referência. É claro que a consolidação das escolinhas depende de outros fatores, principalmente financeiros, mas se o projeto priorizar mais a iniciação esportiva acredito que grande parte desse trabalho já tem uma base nas universidades. São parcerias imprescindíveis. Recentemente, estive na Unisul, em Santa Catarina, e tive a certeza de que as universidades seriam parceiras em potencial".

Essa é sua terceira visita a Montes Claros...
CARLÃO
– "Isso. Estive aqui com o Minas, quando conquistamos a Liga Nacional na época do Telemig Celular. O Cebola era o técnico. Depois voltei com o Giovanne para apresentar um projeto da AABB. Aliás, pelo Brasil afora, os clubes como as AABBs são verdadeiras potências".

Como veio do Acre parar em Minas Gerais?
CARLÃO
– "Rio Branco é longe de tudo né? (risos). Sai de lá com 16 anos, como disse, e fui para Fortaleza e depois segui para Campo Grande, quando fui convocado para a seleção brasileira de novos. Lá era o centro de treinamento. Aí, do Mato Grosso do Sul, fui contratado pelo Minas Tênis, onde fiz parte daquele time fantástico em 1984, campeão da Liga pela primeira vez. Aliás, agora mesmo teve uma comemoração especial pelos 25 anos da conquista. Tenho cinco ligas nacionais, sendo duas com a camisa do Minas".

Algo inusitado nessa carreira?
CARLÃO
– "As histórias são muitas. Posso dizer que conheço o mundo inteiro. Mas teve uma que me impressionou porque ainda era novo. Na convocação para a seleção brasileira, fiquei fora da lista mesmo jogando o fino da bola. Vinte dias depois, fui saber que a Confederação confundiu os nomes e convocou outro Antônio Carlos".

Você mora onde?
CARLÃO
– "Hoje, estou com a minha família no Rio de Janeiro, mas fiquei nove anos em Florianopólis, onde cheguei a ser secretário municipal de esportes. Fiz um trabalho parecido ao dos Embaixadores e com apelo à iniciação esportiva, o "Passarela". Uma experiência positiva, mas tive que trabalhar igual ou até mais em relação ao que fiz na quadra. No Brasil, ainda não há o reconhecimento do valor do esporte para a formação do cidadão. Com muito custo, conseguimos convencer de que o orçamento para o esporte tinha que ser maior. Foram reuniões e mais reuniões com vereadores, prefeitos e outras pessoas. Enfim, o orçamento passou de 0,28% para 1%".

Mas quando se é famoso, as portas são abertas facilmente...
CARLÃO
– "Sim, mas isso não basta. Nossa!. O trabalho no bastidor é doloso. Como disse, a cultura ainda não reconhece a força do esporte. Agora mesmo, o governo está cortando justamente os repasses do Ministério do Esporte".Fale sobre futebol. O seu estado recebeu os maiores elogios pelo projeto para sediar a copa do mundo de 2014.

Tem seu dedo lá?
CARLÃO
– "Não, mas fico feliz pelo reconhecimento ao compromisso do pessoal de lá. Fui até chamado para ser o secretário estadual de esportes. Acho difícil o estado ser escolhido, mas quem sabe Rio Branco seja uma subsede da Amazonia. A floresta é, a meu ver, o grande diferencial para o Brasil estar recebendo esta copa. E o projeto do estádio seria exatamente nos arredores da Floresta".

E o seu time do coração?
CARLÃO
– "No Acre, sou Rio Branco e, no Rio, Flamengo, mas por interferência de minha esposa, apenas minha filha mais velha (19 anos) me acompanhou na escolha. Os demais são todos sofredores do Botafogo (risos)".

(Foto: Alexander Sezko)

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